Uma Porto-Riquenha nas Linhas de Frente da Segunda Guerra

Carmen Contreras Bozak jamais imaginou o impacto que a guerra teria em sua vida até aquele dia fatídico, 7 de dezembro de 1941. “Tudo o que lembro é da minha amiga presa no meio do nada por causa do ataque a Pearl Harbor”, recordou. Esse momento foi o primeiro indício do que estava por vir, e em menos de seis meses, ela estava a caminho de um dos capítulos mais importantes de sua vida.

Filha mais velha de uma família porto-riquenha, Carmen nasceu em Cayey, uma pequena cidade próxima a San Juan, em 1919. Criada por uma mãe costureira, mudou-se com a família para Nova York, onde completou os estudos e começou sua trajetória no Departamento de Guerra dos Estados Unidos. Foi lá que o patriotismo despertou em Carmen, e a oportunidade de se alistar no Women’s Army Auxiliary Corps (WAAC) surgiu como um caminho inevitável. “Eu precisava ir”, disse ela. “Sabia que poderia contribuir. E viajar. Aquele era o meu momento.”

Em janeiro de 1943, Carmen era uma das 195 mulheres selecionadas para o 149º Companhia do WAAC, embarcando no porto de Nova York com destino ao Teatro Europeu. A travessia pelo Atlântico foi um teste não só de sua resistência física, mas também mental. “Eu olhei para a Estátua da Liberdade e soube que estava deixando meu lar para um destino incerto”, relembra, com a memória ainda fresca. Ao longo da viagem, as tempestades e o enjoo provaram ser os primeiros obstáculos, mas nada comparado ao que viria.

Ao chegar em Argel, no Norte da África, Carmen foi designada ao corpo de sinalização como operadora de teletipo, transmitindo mensagens codificadas diretamente para os campos de batalha. Estava agora no centro dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, participando silenciosamente de operações que eram cruciais para o esforço de guerra. Argel não era apenas um ponto estratégico, mas também uma cidade frequentemente atacada. “Vivemos quatro bombardeios, mas nunca sentimos medo”, conta ela, refletindo sobre a coragem que só a juventude é capaz de proporcionar. Em vez de buscar abrigo como a maioria das mulheres, Carmen e uma amiga subiam no telhado do hotel onde trabalhavam, para assistir ao fogo de artilharia que iluminava o céu noturno.

Foram 18 meses em Argel, um período que ela descreve como desafiador, mas também gratificante. Mesmo estando longe da linha de frente, sua contribuição era vital. Com uma habilidade inigualável para se comunicar em mais de uma língua, Carmen desempenhou um papel crucial na coordenação entre as forças aliadas. O 149º foi uma unidade especial, composta por mulheres que falavam mais de um idioma, uma habilidade essencial para operar no caos multilinguístico da guerra. “Sentia-me especial por estar ali, ajudando a conectar os comandos no campo de batalha”, disse ela com orgulho.

O serviço de Carmen a levou ainda mais longe, até Caserta, na Itália, onde ela continuou sua missão em um palácio adaptado para o exército. Ali, mesmo cercada por grandiosidade, ela nunca perdeu de vista seu papel: “Era um trabalho diário, nada de glamour. Apenas fazer o que era preciso”. Depois de cumprir seu tempo, Carmen voltou aos Estados Unidos, recebendo várias medalhas, incluindo a Medalha de Campanha Europeia-Africana-Oriente Médio e duas Estrelas de Batalha.

Sua história não terminou ao final da guerra. Um encontro casual com Theodore Bozak, um colega veterano, em um hospital militar, transformou-se em um casamento que durou 46 anos. Juntos, construíram uma família e uma vida, mas para Carmen, os dias de serviço nunca ficaram para trás. Ela continuou a trabalhar com organizações de veteranos, fundando capítulos de apoio e dedicando-se a causas que honravam o sacrifício de seus colegas.

Hoje, mesmo décadas após o fim da guerra, Carmen Contreras Bozak permanece uma testemunha viva da coragem e da determinação que definiram uma geração. Seu nome pode não ser amplamente conhecido, mas sua contribuição para a vitória aliada é um lembrete de que os verdadeiros heróis muitas vezes operam longe dos holofotes.

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