Um Dia Incomum no LCI 502

Outono de 1943. As águas tranquilas da Baía de Chesapeake refletiam as cores vibrantes das folhas nas margens. O calor suave e o ambiente sereno contrastavam com as manobras frenéticas que executávamos naquela manhã. O LCI 502, uma embarcação de desembarque de infantaria da Marinha dos Estados Unidos, seguia rigorosamente os comandos do grupo, mudando de formação a cada bandeira içada. Estávamos treinando para operações futuras, ajustando nosso curso com precisão, virando rapidamente em uníssono e praticando desembarques.

Após horas de exercícios, o sinal para pausa foi dado, e o comandante nos permitiu orbitar livremente enquanto nos preparávamos para o almoço. Era um momento raro de calmaria. A tripulação relaxava, aproveitando o tempo para conversar e recuperar o fôlego. Eu estava no posto de vigia, observando o horizonte, enquanto o oficial de engenharia, Bill Krenicky, de apenas 21 anos, estava no comando temporário do navio. Pete Trask, nosso operador de rádio, mantinha os olhos no sistema de comunicação.

O que poderia ter sido uma tarde tranquila logo se transformou em um episódio memorável. Uma revoada de patos apareceu a cerca de meia milha à nossa frente, sobrevoando as águas serenas. Alguém sugeriu que nos aproximássemos para dar uma olhada mais de perto, e Krenicky, sempre disposto a seguir o espírito de aventura, apontou o navio naquela direção. Ao nos aproximarmos, os patos, naturalmente, alçaram voo novamente. Mas então veio a ideia que marcaria aquele dia: “Vamos caçar patos!” gritou um de nós, sem hesitar.

Com entusiasmo juvenil, Gunner Cummer correu até o armário de armas e voltou com o que tínhamos à disposição: uma pistola e um rifle calibre .22, nada muito apropriado para a caça, mas era o que tínhamos. “Pegue o rifle, Pete!” Cummer ordenou, e eu fiquei com a pistola. A adrenalina começou a fluir. Krenicky, já envolvido pela excitação, ajustou o curso mais uma vez para que pudéssemos nos aproximar dos patos que, mais uma vez, haviam pousado. Mas, assim que chegamos mais perto, os patos alçaram voo novamente, e nossos disparos inofensivos se mostraram, como esperado, inúteis.

Foi nesse momento que Krenicky, dominado pela euforia da “caça”, deu a ordem que mudaria o ritmo da tarde: “Máxima velocidade! Timão à direita!” O navio, que até então navegava em velocidade reduzida, rugiu à vida. Os motores dispararam, inclinando o convés enquanto a tripulação, despreparada, tentava manter o equilíbrio. As bandejas de metal do refeitório escorregaram das mesas e caíram no chão, fazendo um barulho ensurdecedor. Tudo o que estava solto começou a voar. O caos se instaurou.

No refeitório, os homens mal tiveram tempo de reagir antes de o capitão, Sr. Humsjo, perceber que algo estava terrivelmente errado. Ele pulou da sua cadeira na sala de oficiais e, com o rosto pálido, subiu a escada até o convés, claramente pensando que estávamos sob ataque. Ele atravessou o navio em uma corrida desenfreada, subindo as escadas até a torre de comando, onde, finalmente, confrontou Krenicky, que, com um sorriso travesso no rosto, simplesmente disse: “Estávamos caçando patos!”

A reação do capitão foi imediata e furiosa. Ele explodiu em uma série de reprimendas, o rosto vermelho de raiva. Explicou em termos inequívocos por que aquela ideia havia sido, no mínimo, um grave erro de julgamento. As palavras do capitão ecoaram pela torre de comando, e, naquele momento, todos nós soubemos que, se algo assim voltasse a acontecer, as consequências seriam severas. A atmosfera ao redor dele parecia carregada, quase azulada, de tanta tensão.

Por sorte, as coisas poderiam ter sido piores. Não usamos as metralhadoras Thompson que tínhamos a bordo, o que teria causado ainda mais alarde. Mas a lição foi clara: nunca mais caçaríamos patos com um navio da Marinha dos Estados Unidos. Era uma lição que nenhum de nós esqueceria.

Aquele dia, embora marcado por um ato impulsivo e irresponsável, representava uma pausa momentânea na dura realidade da guerra que se aproximava. Em breve, nossas vidas seriam moldadas pelos conflitos e sacrifícios que o combate impunha. Mas, por algumas horas, éramos jovens marinheiros, envolvidos em uma aventura inconsequente, navegando em direção a algo muito maior do que podíamos imaginar.

O LCI 502 seguiria em frente, participando de ações reais de combate nos meses seguintes, assim como muitos outros navios da frota americana. No entanto, a lembrança daquele dia de outono, com a brisa leve e as águas tranquilas da Baía de Chesapeake, permaneceria gravada na memória de todos nós que vivemos aquele momento.

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