A Luta Silenciosa dos Submarinos Italianos no Atlântico
No início da Segunda Guerra Mundial, a Itália, liderada por Benito Mussolini, entrou no conflito ao lado das potências do Eixo, consciente de que sua posição estratégica no Mediterrâneo seria crucial. No entanto, a Regia Marina, a marinha italiana, rapidamente percebeu que o teatro de operações no Mediterrâneo, com suas águas claras e distâncias curtas, não era o ambiente ideal para seus submarinos de longo alcance. Esses navios, projetados para longas viagens e operações em grandes espaços, enfrentaram dificuldades em um mar limitado e fortemente patrulhado. Assim, foi tomada a decisão: os submarinos italianos atravessariam o Estreito de Gibraltar e se juntariam à temida campanha de submarinos alemães no vasto e traiçoeiro Atlântico.
A passagem pelo Estreito de Gibraltar, com suas correntes traiçoeiras e vigilância constante dos britânicos, foi o primeiro grande teste para os submarinos italianos. Depois de superar esse desafio inicial, eles chegaram à base naval de Betasom, em Bordeaux, na França ocupada. Esta base tornou-se o centro de operações dos submarinos italianos no Atlântico, operando sob o comando geral dos alemães.
A partir de setembro de 1940, a Regia Marina começou a enviar seus submarinos para o Atlântico. O primeiro a chegar foi o “Malaspina”, seguido de perto pelos submarinos “Barbarigo” e “Dandolo”. No final de 1940, um total de 27 submarinos italianos estavam operando na chamada Batalha do Atlântico, número que eventualmente cresceu para 32.
Os submarinos italianos, apesar de suas limitações, participaram de 189 missões durante a guerra. Eles afundaram 101 navios mercantes inimigos, totalizando 568.573 toneladas de deslocamento, além de danificar outras embarcações, contribuindo para o esforço de guerra do Eixo. No entanto, o custo foi alto: 16 submarinos italianos foram perdidos no Atlântico, uma taxa de perda que refletiu os desafios que esses navios enfrentaram.
Entre os submarinos italianos, o “Leonardo da Vinci” destacou-se como o mais bem-sucedido. Sob o comando do Capitão Gianfranco Gazzana-Priaroggia, esse submarino afundou 16 navios inimigos, totalizando 116.686 toneladas. Em uma única missão, o “Leonardo da Vinci” destruiu seis navios, somando 58.973 toneladas. Esses números impressionantes, no entanto, foram a exceção, e não a regra.
A realidade para a maioria dos submarinos italianos foi bem diferente. “Enquanto nossos colegas alemães obtinham sucessos constantes, nós, italianos, enfrentávamos desafios que muitas vezes pareciam intransponíveis”, recordou um marinheiro italiano. A diferença de eficácia entre os submarinos italianos e alemães logo se tornou evidente. Construção e equipamentos inferiores, combinados com treinamento menos rigoroso das tripulações, resultaram em um desempenho inferior.
Para equilibrar as condições, modificações foram feitas nos submarinos italianos. A superestrutura foi reduzida, as entradas de ar para os motores a diesel foram melhoradas, e os comandantes italianos foram enviados para escolas de submarinos alemãs para um treinamento mais avançado em táticas de guerra submarina. No entanto, mesmo com essas melhorias, a eficácia dos submarinos italianos permaneceu aquém das expectativas.
O Alto Comando Alemão, ciente das limitações dos submarinos italianos, decidiu enviá-los para operar em áreas isoladas de tráfego naval, onde suas características poderiam ser melhor aproveitadas. Raramente os submarinos italianos participaram das temidas “matilhas” formadas pelos U-boats alemães no Atlântico Norte. Em vez disso, eles foram enviados para áreas de tráfego mais leve, como as costas atlânticas dos Estados Unidos e da América Central, bem como as águas da África Central e Austral e do Oceano Índico.
Em 1943, diante das crescentes deficiências dos submarinos italianos, a Regia Marina decidiu convertê-los em submarinos de transporte, destinados a missões entre o Japão e a Alemanha. Para compensar as perdas e manter a presença italiana no Atlântico, a Alemanha transferiu nove U-boats do Tipo VII C para a marinha italiana.
No entanto, antes que essas mudanças pudessem ser totalmente implementadas, a Itália assinou um armistício com os Aliados em 8 de setembro de 1943, marcando o fim da presença italiana no Atlântico. A guerra submarina da Regia Marina terminou abruptamente, deixando um legado misto de bravura e frustração.
Os submarinos italianos no Atlântico, embora menos eficazes que seus equivalentes alemães, desempenharam um papel importante na guerra submarina do Eixo. Eles enfrentaram desafios imensos em águas traiçoeiras e, apesar de suas limitações, contribuíram para o esforço de guerra. Como disse um veterano italiano: “Lutamos com o que tínhamos, e lutamos com todas as nossas forças. Esta foi a nossa guerra, e fizemos parte dela até o fim.”
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