FEB – Sangue na Neve: O Destino de um Soldado Brasileiro em Monte Castelo

***Imagem ilustrativa***

O inverno italiano de 1944 pintava de branco as encostas de Monte Castelo, palco de uma das mais emblemáticas batalhas envolvendo a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Entre os combatentes que enfrentaram o frio cortante e o inimigo determinado, estava o Cabo Fernando Leopoldo dos Santos Miranda, um jovem pernambucano cujo destino seria selado nas primeiras horas daquele fatídico 12 de dezembro.

Miranda, natural do Recife, havia trocado a vida de funcionário público pelo uniforme do Exército, sendo incorporado inicialmente ao 14º Regimento de Infantaria em Pernambuco. O chamado da guerra o levou ao 1º Regimento de Infantaria – o lendário Regimento Sampaio – no Rio de Janeiro, de onde partiu para a Itália no segundo escalão da FEB.

“Estávamos dormindo em uma estrebaria quando recebemos a ordem”, relembra Miranda. Na madrugada gelada, seu batalhão avançou para o ataque. O cenário era desolador: os alemães, entrincheirados no alto do monte, dispunham de uma vantagem estratégica brutal sobre os brasileiros que tentavam a ascensão.

Às 8h30 da manhã, o destino de Miranda mudou para sempre. “O primeiro tiro me pegou. Senti uma frieza quando a bala bateu em mim”, descreve o veterano. Quatro ferimentos o atingiram: um em cada perna, um na mão e outro na costela esquerda. Caído sobre a neve, o jovem cabo viu seu sangue tingir o branco imaculado, enquanto o frio intenso ironicamente lhe salvava a vida, estancando a hemorragia.

A batalha continuava ao seu redor, mas para Miranda, o tempo parara. Horas se passaram até que, ao clarear do dia, soldados alemães desceram a encosta para recolher os feridos. Contra todas as expectativas, o tratamento recebido foi surpreendentemente humano. Levado a um hospital italiano, Miranda recebeu cuidados de enfermeiros alemães, uma lembrança que carregaria consigo pelos anos seguintes.

Sua odisseia estava longe do fim. Transferido para um campo de prisioneiros na Áustria, o cabo brasileiro passou quatro meses sob custódia inimiga, até ser libertado por tropas britânicas com o fim da guerra. O retorno à pátria foi lento e doloroso, passando por hospitais em Livorno, Casablanca e nos Estados Unidos, onde finalmente recebeu o tratamento necessário para suas feridas.

Ao voltar ao Brasil, Miranda enfrentou novos desafios. Reformado como 2º Sargento, ele carregava não apenas as cicatrizes físicas, mas também a frustração com o que via como falta de reconhecimento adequado por seu sacrifício. “Fui ferido em combate e ganho a mesma coisa de quem ficou aqui no Brasil!”, desabafa, ecoando um sentimento compartilhado por muitos veteranos.

A história de Fernando Leopoldo dos Santos Miranda é um testemunho vivo da coragem e resiliência dos pracinhas brasileiros. Seu relato nos lembra que, por trás dos números e estratégias, a guerra é fundamentalmente uma experiência humana, repleta de dor, medo e, por vezes, inesperada compaixão.

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