O Soldado que Sobreviveu ao Inferno em Monte Castelo

***IMAGEM ILUSTRATIVA***

Monte Castello, 29 de novembro de 1944. A madrugada mal começava quando Vessio Manelli, um jovem soldado brasileiro da 3ª Companhia do 1º Regimento de Infantaria, se posicionou com seus companheiros na base do morro. “Fomos ordenados a cavar trincheiras”, ele lembra. A tarefa parecia simples, mas o solo úmido logo se tornou um obstáculo. “O chão encharcou de tal forma que passei a noite enrolado na manta, dormindo dentro d’água”, relata Manelli. Ao amanhecer, a expectativa de enfrentar o inimigo era quase palpável. Após uma rápida refeição com a ração K, chegou a temida ordem: avançar.

“Recebemos a ordem de subir as encostas sob fogo cerrado, com projéteis e granadas chovendo por todos os lados”, descreve o soldado. O terreno, desnudo e traiçoeiro, oferecia pouca proteção. Em meio ao caos, Manelli tentava cavar um abrigo quando foi atingido pela primeira vez. “Uma granada me pegou nas costas”, ele conta. Sem tempo para se recompor, foi alvejado de novo. “Dois projéteis: um na coxa, outro no flanco, perfurando meu abdômen”. Ferido e impossibilitado de se mover, ele se viu à mercê das balas inimigas.

“Me virei na direção dos alemães, protegendo minha cabeça com o capacete de aço”, ele relembra. A situação se agravava a cada segundo, mas sua resistência era inabalável. Foi então que o impacto mais devastador o atingiu: “Uma bala atravessou meu tórax e quebrou minha placa de identificação”. Mesmo assim, Manelli resistiu, exposto sob o fogo constante por todo o dia.

As horas arrastaram-se como uma eternidade. O barulho dos disparos, as explosões, o cheiro de pólvora misturado com o frio cortante… Ao cair da noite, finalmente o tiroteio cessou. “Ao escurecer, um padioleiro chegou ao meu encontro e fez os primeiros curativos”, descreve com alívio. Mas a jornada de dor estava longe de terminar. “Só às onze da noite veio uma equipe de padioleiros para me transportar até as posições da companhia”.

A viagem até o hospital foi longa e dolorosa, passando por Valdibura, Pistóia e Livorno, até chegar aos Estados Unidos. Em New Orleans e Charleston, Manelli passou um mês e meio internado, submetido a cinco cirurgias. Seu corpo, marcado por cicatrizes, é um testemunho de sua resistência. “Meu corpo está cheio de cicatrizes”, ele conclui, com uma mistura de orgulho e resignação.

O relato de Vessio Manelli ecoa a dura realidade enfrentada pelos soldados da Força Expedicionária Brasileira. Sua luta em Monte Castello não foi apenas uma batalha por território, mas por sobrevivência, coragem e sacrifício em condições implacáveis.

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