A Resistência Inabalável de Jacob Vouza na Campanha de Guadalcanal

O cenário em Guadalcanal era de uma natureza implacável, onde o calor sufocante e as densas florestas pluviais impunham desafios que poucos estavam preparados para enfrentar. Entre os nativos que surgiram como aliados essenciais dos fuzileiros americanos, destacou-se um homem cuja coragem e resiliência deixaram uma marca indelével na campanha: o Sargento-Mor Jacob Vouza.

Era apenas alguns dias após o desembarque das tropas americanas quando um trio de nativos apareceu às margens do rio Tenaru. “Eu sou o Sargento-Mor Jacob Vouza”, apresentou-se o homem alto e musculoso, que havia servido como oficial da polícia nativa antes da invasão japonesa às Ilhas Salomão, sua terra natal. Com um inglês claro, ele ofereceu seus serviços e de seus companheiros como guias e batedores, conhecedores do terreno traiçoeiro da ilha.

Os americanos, rapidamente percebendo o valor de Vouza e de seus homens, aceitaram sua oferta. Não demorou para que ele se tornasse uma figura de confiança entre os marines, especialmente os Raiders, uma unidade de elite. “Eles confiavam em Vouza como confiariam em um deles”, lembraria mais tarde um oficial. Seus profundos conhecimentos da ilha e suas habilidades de rastreamento permitiram aos fuzileiros manter a vantagem sobre o inimigo em um terreno que de outra forma seria uma armadilha mortal.

A confiança que os americanos depositaram em Vouza era tamanha que um deles, impressionado, presenteou o sargento-mor com uma bandeira americana. Um gesto simples, mas carregado de significado. No entanto, esse símbolo de amizade quase custou sua vida.

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Durante uma missão de reconhecimento perto da aldeia de Volonavua, Vouza foi capturado por uma patrulha japonesa. “Eles encontraram a bandeira”, diria mais tarde, descrevendo o que foi seu primeiro e último erro de cálculo. A descoberta do pano transformou sua captura em tortura. Amarrado com cordas de palha, Vouza foi brutalmente espancado com coronhas de rifles. “Eles queriam que eu falasse, mas eu não cederia”. Mesmo após ser esfaqueado e cortado por baionetas e espadas, ele se manteve em silêncio, recusando-se a trair seus aliados. Quando finalmente perdeu a consciência devido à perda de sangue, os japoneses o deixaram para morrer.

Porém, a determinação de Vouza era inquebrantável. Ao recobrar os sentidos, ainda gravemente ferido, ele roeu as cordas que o prendiam e começou uma dolorosa jornada de quase quatro milhas de volta às linhas americanas. Atravessando a selva, cada passo uma agonia, foi finalmente encontrado pelo Capitão Martin Clemens, um oficial australiano e observador da costa. Clemens, que testemunhou a devastação física de Vouza, mal pôde conter sua comoção ao ver as feridas profundas que cobriam o corpo do sargento-mor. “Ele estava à beira da morte, mas não perdeu tempo e nos informou imediatamente sobre as forças japonesas”, lembraria Clemens com assombro. Graças às informações fornecidas por Vouza, os marines conseguiram se preparar para o ataque iminente.

Contra todas as probabilidades, Jacob Vouza sobreviveu. Sua recuperação foi lenta, mas sua vontade de continuar lutando ao lado dos americanos era implacável. Ele liderou outras patrulhas e desempenhou um papel crucial na defesa da ilha até o fim da campanha.

A bravura de Vouza não passou despercebida. Ele foi condecorado com a Estrela de Prata e a Legião de Mérito pelos Estados Unidos, além da Medalha George, concedida pelo Reino Unido. “Nunca fiz isso por glória, fiz isso pela minha terra e pelo meu povo”, dizia ele. Em reconhecimento aos seus serviços, uma bolsa de estudos foi criada em seu nome para ajudar as crianças desfavorecidas das Ilhas Salomão a obter uma educação melhor.

Em 1979, Jacob Vouza foi elevado ao status de cavaleiro, recebendo o título de Sir pelas mãos da Rainha Elizabeth II. Sua figura imponente e sua coragem inabalável tornaram-se uma lenda viva entre os combatentes de Guadalcanal. Muitos anos depois da guerra, os marines veteranos voltaram à ilha para homenageá-lo com uma placa de bronze, montada sobre um bloco de granito. A inscrição simples e poderosa dizia: “Dedicado ao SARGENTO-MOR JACOB VOUZA e seus ESCOTEIROS das Ilhas Salomão, por sua suprema intrepidez e valor diante do inimigo durante a luta por Guadalcanal, 1942-43”.

Jacob Vouza faleceu em 1984. Seu túmulo, marcado pelo mesmo bloco de granito e a placa de bronze, tornou-se um memorial eterno à sua bravura. Sua disposição de sacrificar tudo por aqueles que ele mal conhecia, em nome de um ideal maior, é um testemunho do poder da humanidade mesmo nos momentos mais sombrios da guerra.

A história de Vouza, entrelaçada na brutalidade de Guadalcanal, transcende os limites da guerra e serve como um lembrete de que, em meio ao caos, há sempre aqueles que se erguem, não por glória ou reconhecimento, mas pela simples convicção de que é o certo a se fazer.

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