A Batalha da Córsega: Uma Luta pela Sobrevivência no Mediterrâneo

A Batalha da Córsega, ocorrida em 1943, foi um confronto complexo e dramático entre as forças alemãs, italianas e francesas, marcado pela traição e por uma tensa luta pela sobrevivência no contexto da Segunda Guerra Mundial. Esta ilha estratégica no Mediterrâneo tornou-se palco de intensas batalhas após a deserção da Itália para o lado dos Aliados, representando uma ameaça direta às forças do Eixo.

A Córsega no Meio do Furacão

A Córsega, controlada pela França de Vichy após a rendição francesa em 1940, não havia sido ocupada pelas potências do Eixo até 1942, quando a Itália, sob o comando de Mussolini, desembarcou tropas na ilha. No entanto, com a capitulação da Itália em setembro de 1943, a situação mudou drasticamente. A Brigada de Assalto “Reichsführer SS”, liderada pelo SS Obersturmbannführer Karl Gesele, foi enviada para a Córsega com a missão de desarmar os cerca de 80 mil soldados italianos estacionados na ilha e assegurar o controle sobre o território, uma tarefa que logo se mostraria muito mais difícil do que o previsto.

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Arma de assalto da brigada SS do Reichsführer na Córsega

A brigada, que contava com apenas 3 mil homens – uma fração de sua força total – enfrentava grandes desafios. O efetivo era limitado, com unidades parcialmente equipadas e sem a quantidade adequada de veículos blindados ou artilharia pesada. Além disso, a ameaça constante de ataques da resistência local, incentivada pelo general francês Henri Giraud, tornava a situação ainda mais delicada. As forças italianas estavam divididas: enquanto algumas unidades permaneciam leais ao regime fascista de Mussolini, outras estavam prontas para se voltar contra os alemães, tornando o ambiente na ilha ainda mais imprevisível.

A Marcha para Bastia: Uma Operação de Vida ou Morte

Em setembro de 1943, após a assinatura do armistício entre a Itália e os Aliados, Gesele e sua brigada começaram a se movimentar para o sul da Córsega, na direção de Bonifácio. “A tensão entre os nossos homens era palpável,” lembrou um oficial da brigada. “Sabíamos que os italianos poderiam se virar contra nós a qualquer momento, e os rumores de uma invasão aliada iminente nos mantinham em alerta constante.”

A decisão de Gesele de marchar para Bonifácio não foi tomada de forma leviana. Ele sabia que a criação de uma cabeça de ponte no sul da ilha era crucial para impedir um desembarque aliado e garantir a evacuação segura das forças alemãs da Sardenha, que estavam sendo pressionadas pelas tropas aliadas. A brigada SS conseguiu tomar o controle do porto, das baterias costeiras e da cidadela de Bonifácio, estabelecendo uma linha de defesa que seria vital nas semanas seguintes.

A marcha para o norte, no entanto, seria ainda mais desafiadora. As tropas italianas, agora divididas entre lealdade e traição, bloquearam as estradas e atacaram as forças alemãs com fogo de artilharia. Os homens da brigada SS foram obrigados a desmontar e avançar a pé pelas colinas, sob bombardeios constantes. “Estávamos exaustos, famintos e com pouca munição, mas não podíamos recuar,” disse um sargento alemão que sobreviveu à campanha. “Cada metro de avanço custava sangue, e sabíamos que uma retirada significava a morte certa.”

Apesar das dificuldades, a brigada conseguiu romper as linhas italianas e, no dia 13 de setembro, capturou Bastia, um porto estratégico no norte da ilha. Com a cidade e o campo de aviação de Borgo sob controle alemão, Gesele garantiu uma rota de evacuação para as forças da Wehrmacht que ainda estavam na Sardenha.

O Fim da Batalha e a Retirada Alemã

Em 12 de setembro, Adolf Hitler ordenou a retirada das tropas alemãs da Córsega, uma operação que exigiria tempo e coordenação meticulosa. “A evacuação foi um caos controlado,” recordou outro soldado. “Estávamos sob constante bombardeio aliado e, mesmo assim, conseguimos retirar mais de 3 mil homens por dia.”

Entre 19 e 25 de setembro, as forças alemãs e italianas limitaram-se a bombardeios de artilharia e operações de reconhecimento. A brigada de assalto aproveitou essa pausa para se preparar para os combates finais que estavam por vir. Em 30 de setembro, os italianos, apoiados por tropas francesas e marroquinas, lançaram uma ofensiva massiva contra as posições alemãs no Passo de Tegim, um ponto crucial na defesa da ilha. Os combates foram ferozes, mas os alemães conseguiram manter suas posições, repelindo os ataques inimigos.

Em 2 de outubro, a situação na Córsega tornou-se insustentável para as forças alemãs. A evacuação continuou, com as flotilhas alemãs transportando soldados, equipamentos e armas pesadas de volta ao continente. “Foi um alívio indescritível quando, na noite de 4 de outubro, os últimos de nós finalmente deixaram a ilha,” contou um dos oficiais sobreviventes. Bastia, a cidade que havia sido o centro da resistência alemã, foi deixada em ruínas, vítima de ataques aéreos e bombardeios incessantes.

O Obersturmbannführer Karl Gesele, que desempenhou um papel crucial na defesa da Córsega e na evacuação das forças alemãs, seria condecorado com a Cruz de Cavaleiro por suas ações. A Batalha da Córsega, embora ofuscada por outros eventos maiores da Segunda Guerra Mundial, permanece como um exemplo da tenacidade e do sacrifício das forças envolvidas.

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